ERA UMA VEZ… E AINDA É
Era uma vez, há muitos, muitos, muitos anos atrás… há tantos anos, que nem o tempo existia ainda… Nesse tempo sem tempo havia um Reino de Luz, onde tudo era Amor, Beleza e Harmonia… e nós vivíamos lá!… Nós éramos os habitantes desse Reino Encantado!
Mas éramos um pouco diferentes do que somos hoje. Nosso corpo não era deste jeito… era mais transparente, mais leve, mais luminoso. E não precisava de tanta coisa para sobreviver. Tudo o que precisávamos era suprido pela Luz da qual fazíamos parte.
Sim, porque, na verdade, não éramos seres totalmente separados uns dos outros, mas como células de um grande corpo luminoso e amoroso que nos sustentava e nos mantinha sempre felizes e saudáveis.
Mas não pense que ficávamos ali sem fazer nada! A Luz adorava criar, e nós, como parte dela, estávamos sempre criando também… criávamos estrelas, cometas, mundos das mais diferentes espécies! Era muito divertido!!! E tudo permanecia na mais perfeita ordem, porque era criado com Amor e sustentado pelo Amor.
Mas um dia resolvemos fazer uma coisa inédita; resolvemos criar um planeta onde se pudesse experimentar não só o Amor, mas a ausência dele também… porque queríamos saber como seria uma vida desse tipo. E assim fizemos!
Criamos um planeta lindo! Com mares, montanhas, cachoeiras, rios, lagos, florestas maravilhosas, flores incrivelmente belas, inúmeras espécies de animais, pássaros e peixes … tudo com muito Amor e Harmonia. E então pedimos à nossa Mãe-Luz que nos deixasse ir para lá e nos desse a liberdade de escolher permanentemente entre o Amor e a ausência dele.
A Luz, que era puro Amor, não podia deixar de atender este pedido dos seus filhos. Naturalmente, ela nos deu sua permissão, mas nos advertiu:
– “Meus Amados, sendo vocês Filhos do Amor, dificilmente conseguirão vivenciar qualquer coisa que não seja Amor, porque estarão sempre agindo, pensando e sentindo com base no Amor. Se realmente quiserem ter essa experiência, terão que esquecer provisoriamente a sua natureza verdadeira e assumir um papel totalmente estranho a ela. Inclusive precisarão de um corpo mais apropriado para essa nova condição. Vocês estão mesmo dispostos a fazer isto?”
– “Sim, estamos!” – respondemos em uníssono.
– “Façamos, então, o seguinte…” – disse a Luz – “Alguns irão e outros ficarão aqui para lhes dar apoio à distância. Assim, mesmo que vocês se esqueçam por completo que são Filhos da Luz e do Amor, seus irmãos estarão aqui para relembrá-los e ajudá-los a voltar ao Lar, caso esta seja a sua escolha.”
No Reino da Luz não existe competição, portanto foi fácil decidir quem ia e quem ficava.
A Luz criou, então, um corpo perfeito para nos abrigar e mais uma vez nos advertiu:
– “Este corpo exigirá de vocês alguns cuidados que ainda desconhecem, mas saibam que tudo o que ele precisar estará à disposição de vocês nesse planeta. Para que não se sintam totalmente isolados de nós, deixarei uma pequena centelha da nossa Luz permanentemente acesa num local recôndito desse corpo, numa das câmaras do que vocês chamarão de coração. Essa chama os conectará conosco naturalmente, sempre que sentirem saudades de algo que não saberão definir, mas que terão certeza que existe… um lugar de Amor, de Paz, de Conforto eterno… Vocês nos chamarão por muitos nomes, e nós sempre os atenderemos… mas nem sempre vocês reconhecerão a nossa ajuda.”
Tendo dito isto, a Luz nos perguntou mais uma vez se estávamos realmente dispostos a enfrentar essa nova vida e, como respondemos afirmativamente, no mesmo instante nos encontramos dentro de um corpo de carne e osso, num planeta maravilhoso, mas em condições totalmente novas!
A primeira novidade – nada agradável, aliás – foi a sensação de solidão, pois não chegamos todos juntos ao mesmo lugar do planeta e, mesmo aqueles que estavam relativamente próximos, também se sentiam isolados, pois já tínhamos nos esquecido que éramos todos parte de um só corpo e, assim, sentíamo-nos estranhos uns aos outros.
Então veio a noite e, com ela, o escuro e o frio. Em seguida, a fome, a sede, o cansaço… Sem perceber, estávamos tomando contato com a dualidade que nós mesmos tínhamos escolhido experimentar. A cada aspecto do Amor, que nos era familiar, correspondia um aspecto, até então desconhecido para nós, da ausência do Amor. Neste novo Reino, havia alegria, mas também tristeza; havia fartura, mas também carência; havia bondade, mas também maldade; saúde, mas também doença; prazer, mas também dor…
E o sentimento de puro Amor que antes nos unia, começou a dividir seu espaço com a ausência de Amor, que se expressava das mais diversas formas: desconfiança, inveja, ciúme, raiva, intolerância, gerando uma sensação que jamais havíamos experimentado antes: o medo!
No começo ainda tínhamos certa consciência da Luz amorosa que se mantinha intacta em nossos corações e intuitivamente nos conectávamos com Ela em busca de conforto e orientação para enfrentarmos todas as adversidades que se apresentavam em nosso caminho.
Através desse contato, fomos inspirados a pesquisar os recursos que estavam à nossa disposição e a inventar uma infinidade de meios materiais que nos assegurassem a sobrevivência do nosso corpo, bem como uma vida confortável, segura, prazerosa e feliz.
Mas, com o passar do tempo, fomos nos apaixonando tanto por nossas próprias invenções e nos apegando tanto a elas, que passamos a acreditar, não só que elas eram imprescindíveis, como também insuficientes para alcançarmos a felicidade que tanto almejávamos. E começamos a dedicar grande parte do nosso tempo a invenções cada vez mais sofisticadas e à busca de recursos para adquiri-las, de modo que pudéssemos satisfazer nossa vontade cada vez mais exigente de ter, ter, ter… ter tanto ou mais do que os nossos semelhantes, acreditando que isso nos faria mais importantes e poderosos do que eles.
Assim passamos a competir uns com os outros na busca de uma vida material que considerávamos ideal. E essa competição aumentou tanto, que chegamos ao ponto de enganar uns aos outros para termos mais posses do que eles; chegamos ao ponto de escravizar uns aos outros; chegamos ao ponto de matar uns aos outros! E assim, nos esquecemos da Luz Amorosa que habitava nossos próprios corações.
Nossa Mãe-Luz continuava nos observando, e toda vez que a balança da dualidade começava a pender demais para o lado da ausência de Amor, Ela preparava um dos nossos irmãos de Luz para vir até nós e, através dos seus ensinamentos e do seu próprio exemplo, reacender a chama do Amor em nossos corações e nos reconectar à nossa própria Luz.
Isto aconteceu muitas e muitas vezes no decorrer da nossa experiência neste planeta, até que um dia nos envolvemos numa guerra tão horrorosa, que Mamãe-Luz decidiu mudar de tática… Ao invés de nos enviar um dos nossos irmãos, Ela resolveu intensificar um pouco mais a Centelha de Luz que habitava o coração de cada um de nós, de modo que nossa mente percebesse a existência dessa Luz e ficasse curiosa sobre sua procedência e função.
No início, foram poucos que lhe deram atenção. Mas estes lançaram tantos questionamentos, que aos poucos foram despertando a curiosidade de outros e mais outros, até que chegou um momento em que a grande maioria dos seres humanos estava se perguntando: “Quem sou eu, realmente?… O que é isto que sinto em meu coração e que me traz a lembrança de um lugar de paz, harmonia e eterna felicidade?… Se existe um lugar como esse, o que estou fazendo aqui, então?…”
E cada questionamento nos levava mais perto da reconexão com o Reino de Luz de onde viemos, permitindo-nos perceber ligeiramente a presença amorosa dos seres de Luz, que a princípio chamávamos de Mestres, por não nos lembrarmos que eram nossos próprios irmãos que haviam se comprometido a nos ajudar a voltar ao Lar, quando assim decidíssemos.
E quanto mais nos conectávamos com esses “Mestres”, mais ia clareando a lembrança da nossa identidade verdadeira; mais íamos percebendo o Amor em todos e em tudo; mais íamos nos dando conta do nosso poder de transformar a ausência de Amor em Amor, pois fomos compreendendo que nós somos o próprio Amor se expressando das mais diversas maneiras e, na verdade, a ausência de Amor é apenas uma ilusão, uma espécie de sonho que quisemos experimentar para expandirmos a nossa noção de Amor.
Nesse processo, tomamos consciência de que formamos uma unidade e que, assim como não existe competição entre as partes de um corpo humano, também não deve existir competição entre nós. Do mesmo modo que o nosso fígado tem uma função, os rins têm outra, os pulmões têm outra, as glândulas outra e todos trabalham juntos em estreita colaboração para o perfeito funcionamento do nosso corpo físico, assim também cada um de nós tem sua função específica neste planeta, e todos precisamos colaborar uns com os outros, de modo que a Humanidade, como um todo, reflita a Paz, o Amor e a Harmonia do Reino de Luz de onde viemos.
E assim chegamos no ponto em que nos encontramos hoje, finalizando um ciclo que durou séculos e séculos. Muitos ainda estão adormecidos, apegados ao sonho da dualidade, enredados nas malhas da competição e do consumo desenfreado de bens materiais. Mas muitos mais estão despertando, e estes estão ajudando os adormecidos a despertarem também para a realidade de que somos seres incrivelmente criativos e que, assim como criamos um mundo de dualidade, baseado no medo, na manipulação e no poder de uns sobre outros, podemos voltar a criar – através da nossa intenção pura – um mundo baseado no amor e respeito mútuos, onde todos vivam em perfeita colaboração, felizes para sempre!
Neste momento, as portas do Reino de Luz e Amor estão abertas para nós, aguardando o nosso retorno; e nossos irmãos, que lá ficaram, estão nos lembrando que esse Reino não é um lugar definido no espaço e no tempo, e sim um Estado de Ser infinito e atemporal. E nos dizem alegremente:
– “Estamos apenas esperando que despertem desse sonho, pois O QUE ERA UMA VEZ… AINDA É!”
© Vera Corrêa